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*Mariana Uyeda Ogawa

O Museu Nacional é a mais antiga instituição científica do Brasil e foi criado em 1818 por Dom João VI, na cidade do Rio de Janeiro. Inicialmente localizava-se no Campo de Santana (no centro da cidade). A partir de 1892, foi transferido para o Palácio de São Cristóvão, situado no Parque da Quinta da Boa Vista (zona norte da cidade).

O Palácio serviu de residência à família imperial portuguesa (1808 – 1821) e à família imperial brasileira (1822-1889) – foi palco da assinatura da Declaração da Independência do Brasil e local onde nasceram Dom Pedro II e a princesa Isabel. Abrigou a primeira Assembleia Constituinte Republicana (1889-1891) e em 1938 foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Desde 1946, o Museu Nacional é vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nos últimos tempos o museu vem passando por dificuldades decorrentes do corte de orçamento para a sua manutenção. Desde 2014, o museu não recebe a totalidade da verba de R$ 520 mil anuais para a sua manutenção. Este ano, a UFRJ somente tinha repassado para o museu R$ 54 mil da verba federal. Muitas das suas salas se encontravam fechadas por causa das paredes descascadas, fiações elétricas expostas, infiltrações, goteiras, infestações por cupins etc.

Somente em junho deste ano foi firmado um contrato de financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no valor de R$ 21,7 milhões para a revitalização do museu, que incluía a construção de um sistema de combate a incêndio.

E a “tragédia anunciada” - por todos aqueles que conheciam as dificuldades financeiras e de manutenção e o descaso das autoridades com o museu - aconteceu na noite de domingo do dia 2 de agosto: o Museu Nacional foi vitimado por um incêndio de grandes proporções. Não houve vítimas, principalmente porque o museu já havia encerrado a visitação. Os bombeiros levaram mais de seis horas para controlarem o incêndio. Os detectores de fumaça não funcionaram na hora do incêndio. Parte do interior do edifício desabou. As causas que deflagraram o incêndio ainda estão sendo apuradas pelos órgãos públicos responsáveis. E, até o momento, estima-se que 90% do seu acervo queimou.

O Museu Nacional era o maior museu de história natural e de antropologia da América Latina e era considerado o quinto melhor museu de antropologia do mundo. Em seu acervo constavam mais de 20 milhões de itens que integravam as coleções de geologia, paleontologia, antropologia biológica, botânica, arqueologia, zoologia, etnologia, dentre outras.

No meio de suas preciosidades encontravam-se:

- o crânio humano mais antigo achado no Brasil, aproximadamente com 12 mil anos de idade e do gênero feminino (“Luzia”). Encontrado em Minas Gerais na década de 1970 o fóssil tinha feições peculiares, semelhantes às dos aborígines australianos atuais e negros africanos. A sua descoberta mudou as principais teorias sobre o povoamento das Américas;

- o meteorito do Bendegó, que foi descoberto no sertão da Bahia em 1784. Medindo mais de dois metros de comprimento, pesando 5,36 toneladas e composto por ferro e níquel está no museu desde 1888. A rocha é proveniente de uma região entre Marte e Júpiter. Por suportar altas temperaturas o meteorito resistiu ao incêndio;

- Maxakalisaurus topai (“Dinoprata”). O primeiro dinossauro de grande porte montado no Brasil. Tinha cerca de treze metros de comprimento e 9 toneladas de peso e viveu há cerca de 80 milhões de anos na região mineira da cidade de Prata;

- os fósseis da preguiça-gigante e do tigre-de-dente-de sabre que viveram há mais de 11 mil anos na fauna brasileira;

- a maior coleção de múmias egípcias na América Latina, a maior parte arrematada por Dom Pedro I em 1826;

- uma das maiores coleções de insetos da América do Sul, com mais de 5 milhões de exemplares, principalmente da fauna neotropical;

- coleções de objetos da cultura indígena brasileira, da afro-brasileira e do pacífico;

- artefatos da cultura indígena brasileira e das culturas afro-brasileira e do pacífico;

- o sarcófago da Dama Sha-Amun-En-Su (Tebas, Egito antigo – origem aproximada: 750 a.C.), foi presenteado a Dom Pedro II quando em viagem ao Egito em 1876;

- o Trono do rei africano de Daomé (Benin), doado a Dom João VI em 1811. Estava no acervo do museu desde 1818;

- afrescos de Pompéia, que consistiam em pinturas murais presentadas pelo rei das Duas Sicílias, Ferdinando II, irmão da Imperatriz Teresa Cristina, em 1885. Supõe-se que teriam vindo do Templo da deusa Isis na cidade de Pompéia (século I d.C.) e; Muitos outros itens de grande relevância cultural, científica e histórica nacional e internacional foram destruídos. Vários deles eram exemplares únicos.

A calamidade do Museu Nacional representa uma grande perda para a história do Brasil e da humanidade.

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Palavras chave: Museu Nacional; manutenção; incêndio; “Luzia”; meteorito do Bendegó.

*Mariana Uyeda Ogawa - Graduada em Direito (USP). Mestre em Direito das Relações Sociais (PUC/SP). Especialista em Direito Contratual (PUC/SP) e em Gestão Pública (University of La Verne, CA). Professora da Escola de Contas do TCMSP.

Referências

Com incêndio em museu, país tem a maior perda histórica e científica. Folha de São Paulo. São Paulo, 4 set. 2018, Cotidiano, B1.
Gasto com segurança foi zero neste ano. O Estado de São Paulo. São Paulo, 4 set. 2018, Metrópole, A16.
Museu Nacional: os alertas ignorados que anunciavam tragédia. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45398964>. Acesso em 4 set. 2018.
Museu nacional abrigava fóssil Luzia, esqueleto mais antigo das Américas. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/09/02/museu-nacional-abrigava-fossil-luzia-esqueleto-mais-antigo-das-americas.htm>. Acesso em 4 set. 2018.
Museu Nacional. Disponível em: <http://www.museunacional.ufrj.br/index.html> Acesso em: 3 set. 2018.


Os artigos aqui publicados não refletem a opinião da Escola de Contas do TCMSP e são de inteira responsabilidade dos seus autores.

 

 

 


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