Cibeli Gama Monteverde¹
Falar a respeito de eficiência energética na data atual pode parecer, a muitos, um assunto por demais enfadonho e cansativo ou, por assim dizer, repetitivo já que bastante abordado.
Entidades especializadas em preservação de meio ambiente já se manifestaram a respeito do caso, escritórios de gestão de grandes empreendimentos já se debruçaram sobre o problema, tendo sido publicadas várias matérias que abordam as perspectivas de futuro.
Falar de futuro, a meu ver, nada acrescenta ao fato, caso não se tenha um foco na atualidade.
Multinacionais aplicam recursos em valores altos desenvolvendo pesquisas no sentido da economia energética, como também são desenvolvidos estudos buscando maior rendimento da energia elétrica que se consome, para que no futuro tenhamos uma qualidade de vida ainda melhor, com a adequada aplicação das inovações e tecnologias resultantes das pesquisas em curso, consumindo-se cada vez menos energia elétrica para maior conforto.
Todo este panorama tem como finalidade a melhoria da qualidade de vida e, principalmente, a redução de custo nas contas de luz visando o consumidor final.
Com a implantação do controle dos gastos públicos pela internet, o Brasil passa atualmente por um momento em que todos os atos e decisões tomadas pelo poder público estão constantemente sob o foco da imprensa, visto ser este um aspecto que se reflete de maneira direta nos gastos públicos e, consequentemente, na racionalidade da aplicação do que for recolhido como impostos municipais, estaduais e federais.
Na qualidade de engenheira, desempenhando função técnica, dei início aos trabalhos que aqui abordamos, como participante de todo este universo de aspectos que se inter-relacionam, com a visão de quem sempre tenta conectar o que se estuda com a realidade mais próxima.
No ano de 2002/2003, demos início a estudos que tinham como finalidade a aplicação do conceito de eficiência energética aos prédios que constituem o patrimônio imobiliário estadual destinados ao uso da POLICA CIVIL, pois trabalhávamos naquela instituição estadual.
Foram feitos inúmeros contatos com a Secretaria de Energia, com a concessionária local (AES Eletropaulo) e com os vários níveis hierárquicos da administração pública.
Sendo um assunto tratado sob uma abordagem inovadora, parecia a muitos, que poderíamos não atingir os resultados planejados e eventualmente ocasionar problemas maiores.
A concessionária de energia elétrica em questão (AES-ELETROPAULO) possuía os meios para nos apoiar, pois dispunha de recursos financeiros destinados a esta finalidade, uma vez que havia, como ainda esta em vigor legislação que determina aplicação de uma parte dos lucros das concessionárias de energia em eficiência energética nos prédios de seus clientes.
Alinhada com este pensamento, durante o tempo em que atuei à frente da engenharia da Polícia Civil, tivemos oportunidade de dar uma parcela de contribuição, fundamentada no aspecto acima abordado, fazendo com que os treze maiores prédios que a Polícia Civil faz uso na cidade de sp, tivessem suas instalações elétricas de iluminação, modificadas para uma situação mais moderna, econômica e eficiente.
Nosso foco foi uma melhor iluminação aos ambientes das unidades policiais, de forma compatível com a atividade local, em atendimento ao que determinam as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho.
Propiciamos aos funcionários que ali atuam, como também ao público que precisem de atendimento policial nas delegacias e departamentos– sempre em situações estressantes –, um conforto ambiental que viesse a contribuir para a melhoria das condições de trabalho.
Cabe destacar que um policial civil tem como atividade inerente à sua carreira, atuar em plantão policial, o que significa dizer que deve permanecer, muitas vezes, 24 horas em serviço. Esse aspecto do trabalho, sem sombra de dúvida, requer um esforço mental e físico tal que acaba influindo no seu comportamento psicológico e pode levá-lo a níveis de estresse consideráveis.
Com as premissas acima, demos início aos trabalhos de renovação pelos prédios que possuíam as maiores áreas de construção e, conseqüentemente, neste caso, a maior conta de consumo de energia.
No maior deles, que se localiza no centro velho da cidade (era conhecido antigamente como prédio do DEIC), já havíamos em data anterior, feito a substituição dos cinco elevadores antigos que atendiam ao prédio, obtendo uma economia significativa do consumo de energia, na faixa de 35 a 40% do consumo de energia
Nosso passo seguinte foi obter parceria junto à concessionária de energia elétrica da área, visando melhorias na iluminação.
Contatando em várias oportunidades as autoridades que estavam envolvidas na direção das unidades policiais, pudemos obter autorizações para a implantação do trabalho, que consistiu na substituição de lâmpadas, luminárias e reatores – inicialmente em cinco prédios, posteriormente estendido aos demais.
Destacamos, como dito acima, que o trabalho somente se tornou possível por existirem – por determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – recursos destinados a eficiência energética
No caso de nossa proposta, foi possível a aplicação de parte destes recursos na área de iluminação dos prédios da Polícia Civil.
A concessionária deu então início as rotinas de compra de materiais (luminárias, lâmpadas e reatores eletrônicos) de empresas fornecedoras do mercado.
Foi feita a contratação de uma empresa de engenharia elétrica (MGD Engenharia), à qual coube a execução das tarefas de instalação das novas luminárias sem provocar a paralisação das atividades normais nos vários setores envolvidos. Houve um cuidado especial com a não interferência dos trabalhos técnicos com a atividade policial que, como é notório, deve ser contínua, durante as 24 horas do dia.
Foram identificados, por meio de levantamentos executados in loco (pois não havia dados técnicos atualizados disponíveis), os tipos e quantidades de luminárias a serem aplicadas em cada edificação.
Gostaríamos de colocar um aspecto que nos parece importante. Comumente essa instituição é motivo de manchetes nos jornais pelo envolvimento em casos de violência, por vezes polêmicos, cobrando-se dos profissionais, com razão, sempre uma atuação exemplar, como é obrigação dos mesmos.
Com essa adequação, tivemos o prazer de verificar que os funcionários começaram a perceber uma diferença positiva no ambiente, que aos poucos se refletiu numa melhor disposição para o difícil trabalho que realizam.
Retornando ao foco da matéria, salientamos que por ser essa uma situação nova, muito se discutiu a respeito. O brasileiro, de modo geral, tem uma tendência a não aceitar, ou até achar que a mudança pode não produzir resultados – e que este comportamento é comum no serviço público, preocupação esta que foi tida posteriormente como descabida.
Superadas todas as questões burocráticas, utilizando-se a modernização tecnológica com o emprego de lâmpadas e reatores mais eficientes e econômicos. Na ocasião, não tínhamos no BRASIL as lâmpadas de LED, que não usam reator e que, como pouco se comenta, consome tambem boa parte da energia para iluminação.
Estavam em uso nos locais lâmpadas de 40W mais reator como acima já dissemos para uso, as quais foram trocadas por lâmpadas que eram consideradas mais econômicas, que eram as de 30W mais o reator que tinha ser usado naquela lâmpadas
Foram feitas as medições no nível de iluminamento, utilizando-se um equipamento denominado LUXIMETRO, verificando-se uma melhoria sensível do nível de iluminamento dos ambientes e uma adequação rigorosa aos parâmetros técnicos da legislação em vigor.
O texto continua na próxima publicação.
¹Cibeli Gama Monteverde, Engenheira civil, Engª de segurança do trabalho e Especialista em gestão de energia para comunidade europeia-ALEMANHA. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
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